20 de julho de 2006

Alguns amigos que tenho na Internet sempre contam as historias das suas vidas nos seus Blogs, mas especialmente um descreve detalhes de uma infância que nunca me figurou fácil, contudo parece-me apenas poesia. Acho que é o jeito dele escrever, a verdade em suas palavras às vezes ganha ar de idílios. Porém eu, sempre estive oculto, minha vida me parece um amontoado de fracassos. Agora a pouco me deletei do Orkut, ufa!!! Finalmente minha primeira vitória, mas foi difícil deixar a Dani lá sozinha. Hoje navegando, como sempre, achei esse poema de Lêdo Ivo, (navego mais leio também, rs...) e por algum motivo achei isso parecido com minha vida, preferi publicar a tentar entender a razão, afinal o que é a razão?! Se Hegel, que foi o primeiro a tentar elucidar o verdadeiro teor da razão, teve a insensatez de colocá-la abaixo da Fé, que é cega, prepotente e integramente em todos os sentidos acéfala. A isso me indago por onde andará a nossa filosofia! Interessante, mas o Brasil nunca teve filosofo que prestasse. A quem diga que sim, felizmente sobre alucinações não se discute, mas continuando, será por que ela, a filosofia, mãe e senhora das ciências, e naturamente muito velha e nos os brasileiros só gostamos das novas. Pergunto-me o que Hegel defeso tão aciduo da Fé, acharia ao ver carros de som anunciando os cultos das igrejas e suas promessas peçonhentas. Particularmente acho que ele perderia a razão.


Os Morcegos

Os morcegos se escondem entre as cornijas
da alfândega. Mas onde se escondem os homens,
que contudo voam a vida inteiro no escuro,
chocando-se contra as paredes brancas do amor?

A casa de nosso pai era cheia de morcegos
pendentes, como luminárias, dos velhos caibros
que sustentavam o telhado ameaçado pelas chuvas.
"Estes filhos chupam o nosso sangue", suspirava meu pai.

Que homem jogará a primeira pedra nesse mamífero
que, como ele, se nutre do sangue dos outros bichos
(meu irmão! meu irmão!) e, comunitário, exige
o suor do semelhante mesmo na escuridão?

No halo de um seio jovem como a noite
esconde-se o homem; na paina de seu travesseiro, na luz
do farol o homem guarda as moedas douradas de seu amor.
Mas o morcego, dormindo como um pêndulo, só guarda
o dia ofendido.

Ao morrer, nosso pai nos deixou (a mim e a meus oito irmãos)
a sua casa onde à noite chovia pelas telhas quebradas.
Levantamos a hipoteca e conservamos os morcegos.
E entre os nossa s paredes eles se debatem: cegos como nós

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